Friday, September 25, 2009

um último suspiro.

Não consigo lembrar da última vez que lembrei do teu rosto sem ter que recorrer a uma foto antes. Não me lembro de tua voz, de como ela soa, de como ela é usada, de seu timbre, de sua suavidade. Tuas mãos parecem cada vez menos próximas das minhas e cada vez menos institivamente protetoras, como costumavam ser. Tenho plena consciência de que foi tudo muito rápido, tudo muito cedo, muito repentino. Mas ainda não me conformo como minha memória pode perder o que, pra mim, eram os monumentos mais preciosos e especiais para eu mesma poder ser curada. Para eu curar meus sentimentos falhados e meu coração desapontado, com tais fatos. 
Não sei.
Eu sei. Ninguém sabe. Todos sabem. Ninguém entende. Só se sabe depois que se perde, depois que voa para longe, depois que do seu lado repentinamente desaparece, para nunca mais voltar.
Medo. O medo de esquecer. De se conformar. De superar. De esquecer. Esquecer. O meu esquecimento pode ser inevitável. Irreparável até, como muitos dizem. Mas eu não aceito. O fato de eu não poder esquecer, por motivos óbvios, é grande demais. É gigante demais. É inexplorável esse medo. É hesitante. E tem até a sua virtude em meio de tudo.
Não sei se suportaria alguma outra perda. Não me vejo forte, não me vejo preparada. Mas o que realmente quero saber: quem realmente está? Há uma específica preparação para perdas irreparáveis? Sendo elas repentinas ou esperadas? Há algum remédio, alguma fórmula incrédula e fria para esquecimento de tais? Não que eu saiba.
O que mais pesa pra mim é o fato talvez da perda ter proporcionado um sentimento de culpa, remorço, de negligência por minha parte, mesmo sem culpa. Mesmo sem culpa. O que mais entristece e dói é o não dito, o não feito. Sendo, ou não, previsto, a cautela sempre terá que existir. O medo. Eu queria ter dito adeus. Eu queria dizer que a amo. Eu queria que ela soubesse disso. E o pior de tudo é que eu não posso afirmar nada. Só posso esperar e contar os segundos, aguardando uma mensagem afirmando que ela saiba. Eu imploro que ela saiba. Eu só posso ouvir de outrem as mesmas antigas frases que dizem que ela sabe tudo. Dizem que ela nunca esquecerá, que é inevitável, que é coisa de mãe. É coisa de mãe. Mas eu, em minha humildade, só queria dizer que a amo tanto. Mais do que qualquer outra. Não há nada que supere isso, que faça isso evaporar. Queria apenas em um suspiro, em um instante, um dia. Apenas dizer que a amo. Que a amo.


 

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