Thursday, August 30, 2012

condicional

O dia em vermelho
Transição de céus
Dito verdadeiro
Tudo passa, tudo acolá 

Se te entregares mais tarde
ao que parece meio cru, meio nu
Traga a paz a mim
Que o amanhã nosso será
quando a besteira tua passar..

Contudo, não se deixe levar
Ouvi por aí que passa um vesto leste
Levando a solidão
Ao acaso que há de encontrar
Na hipérbole que a liberdade dá
E vê se deixa de lado essa vontade
de virar gente grande
Subverte em êxtase em ser
Para que engrandeça aí dentro..
Encontre a sua paz 
pra eu poder ir descansar bem, meu bem.

Avisa quando se entregar à vida
Pra eu me ajeitar, me colocar na beira
E ter-te como uma velha saudade
"Ai ai
Vai ver é só querer.."

Queira viver..

Saturday, August 18, 2012

deixa o verão pra mais tarde

As ondas batendo na areia, uma após a outra, a se amontoarem em movimentos incansáveis. Os ventos voam para o leste, soprando mais forte, fazendo os braços cruzarem-se e as mãos roçarem sobre a pele.. Em espaços desatentos, o céu de reparte com nuvens carregadas de cinza escuro. O barulho da cidade, das pessoas, da rua logo aqui atrás, ensurdece com a paz interior que traz o mar, em um silêncio celestial, em um fim de tarde que beira a perfeição. O sol cai por entre prédios e casas, para amanhã surgir novamente do horizonte que guarda a imensidão do mar, que vem de lá, lá longe. Então, ecoa um sorriso no rosto e um calorzinho manso dentro do peito. Diga-me: há algo melhor do que estar, simplesmente, feliz? 

(Resgatei-o de um caderno que datava algum dia de janeiro.. Saudade do verão.)

Tuesday, August 14, 2012

Quintas-feiras doem-me a cabeça e os ânimos, sabe-se lá por quê.  Talvez porque mais da metade da semana já se foi e a sexta-feira está logo ali. Com empecilhos e uma cru vontade de viver quintas-feiras, me abandonei hoje depois que não tive escolha. Deixei pra lá, posso viver meu dia amanhã, pois será sexta-feira. Embora tenho a sensação que todos temos nossas quintas-feiras e que se não as vivermos, nossas segundas, terças ou domingos se tornarão como quintas. Sei lá, que mal faria então vivê-la? É uma a cada sete dias.. Por entrelinhas dos neurônios a contrair essas minhas pequenas loucuras, deixei ser e dei uma chance à quinta-feira. Veremos como ela se sai.

Monday, August 6, 2012

02/08


Entre o chão e os degraus de uma pequena escada de dois - talvez três - degraus, estava suspenso no ar a noite, eu com meus olhos a pesar de um longo dia, mantinha a cabeça a viajar com alguma bossa a tocar nos fones de ouvido.. Com os cotovelos a encontrar as pernas em uma tentiva de descançar, as mãos apoiavam a cabeça, que olhava os carros a passar rapidamente pela rua, e o tempo a passar devagar no relógio. O olhar perdido no nada, num ato repentino, flagra passando à sua frente esse cara de tempos que a memória guardava, intacta. E em uma fração de segundo passaram milhões de possibilidades dentro da minha cabeça. E agora, o que eu faria? Deixaria ele seguir seu caminho? Eu precisava vê-lo, já fazia muito tempo.. Assoviei. Ele se virou, e estava ali, esse garoto-homem, homem-garoto, ali na minha frente. Sorriu de lado com a surpresa ao olhar para trás, "Só tinha visto a calça laranja, não tinha visto você aí..", e sentou ao meu lado. Meu coração revirava-se em movimentos descompassados, estava tão acelerado que quase perdera meu ar. E foi então que ah!, perdi todo o ar de meus pulmões ao vê-lo sorrir daquele jeito, aquele mesmo jeitinho somente seu, sorriso esse que consegue afastar aqui de dentro tudo o que é ruim e substituir pela façanha do desenhar daquele gesto - senti o coração parar. Conversa vai, conversa vem, foi passando o tempo devagar. Para os que viam-nos de fora: conseguiam vocês entender-nos? Como melhores amigos conversando coisas desde o preço do pão até o futuro da nossa vida. Caminhos divergentes, idéias similares. E dentro de mim, ecoava a vontade de fazer uma curva lá na frente, em uma tentativa de convergir a andada, a fim de encontrar esse cara em uma esquina qualquer. Falávamos nos conhecendo, conhecendo um ao outro tão bem.. Como se não importasse o que o pretérito - imperfeito - havia guardado, dávamos voz ao que o presente vinha a revelar. Era como se, por aqueles minutos, estivéssemos ausentes do mundo exterior, do que a realidade aguardava, e apenas o que se encontrava ali que merecia atenção. Eu sorria de um jeitinho meu, do qual não sorria há tempos. Sabe? Quando se sorri por vezes e vezes de tão inchado de bem que o coração está. Um momento simplório de uma quinta-feira à noite esquecida no calendário, quem diria.. E, entretanto, tudo é real, aconteceu e ficou guardado comigo. Esse é um daqueles momentos que se guarda a sete chaves no fundo na memória; uma cena que se decora e repassa cada palavra de cor e salteado na cabeça antes de o sono alcançar. E por algum motivo, decidi escrever essa memória. "Nos vemos por aí", disse. Se deixar levar nunca fora tão difícil. Deixá-lo ali para voltar à realidade nunca fora tão difícil como naquela hora, onde tudo o que eu queria era ficar ali até que o dia voltasse a aparecer. E assim, me deixei ir daquele momento de felicidade.
Mas se alguém souber a receita da felicidade eterna, por favor, não venha a dizê-la para mim. Pois assim, se eu souber e decidir ser feliz sempre, de nada valerão memórias como essa descrita acima desses pensamentos breves. Esses momentos pequenos irão parar de acalentar essa velha alma de moça.. E esse sorriso que floresce no meu rosto ao sentir a nostalgia do relembrar, nada no mundo poderia provocar felicidade maior.