Thursday, December 19, 2013

Depois de hoje
a vida não vai mais ser a mesma
a menos que eu insista em me enganar
aliás
depois de ontem
também foi assim
anteontem
antes
amanhã

Paulo Leminski

Sunday, November 17, 2013

Tem coisas lá em casa que eu nem ligo mais, pra não ter que desligar.
Pessoas da minha vida parecem sumir, mas insistem em voltar.

Amores requentados, feito pão dormido, vêm do microondas.
E o bom e velho gosto de romance antigo é sempre bom de recordar.

Microondas, Bidê ou Balde

Sunday, October 6, 2013

le cœur lourd

e bem que me falaram
que ao dividir uma música
ela vira trilha sonora
de um momento qualquer
com outrém;
e quando eu assoviei
a melodia que soava no pensamento
foi que eu dividi
a minha música com
aquele cara
ela é menos minha
diz menos respeito a mim
ela faz lembrar
daquilo que fica melhor guardado

ah, se eu tivesse ficado quieta
e tu não tivestes cantado junto
minha música seria ainda minha
e eu não pensaria no conjunto
nosso, de nós e os nossos dizeres
nossas risadas e nossos olhares
que falavam por nós
que nos envolviam
na madrugada, abafada
ao nosso redor

agora, onde está a segunda voz?

Tuesday, July 23, 2013

lua

I wish I was closer, just a little closer to you right now. I wish distance would not be a matter that could, eventually, keep us apart. I wish I was closer; for everything I see in you, I envy its place, for it is near you. Every emotion, every object, every person near you, I wish it was me.
As I wish I could be that one song we both adore, the one with just a simple acoustic guitar playing with no syncronism at all, and the raspid - yet amazing - voice which transform it into a deep, soulfull, melancholic song. I wish I could be all that you feel when that song is playing, all the sadness that surrounds you and all the happiness which is the reason you smile when your hear it. As I also wish to be that book on the shelter right next to your bed, the one you regardlessly run for when looking for some answers. I wish I was the calm that washes you. I wish I could be that whisper of peace that only those words bring you. When everything is lonely, I can be my own best friend. I'll get a coffee and a paper, have my own conversations. I wish I was the brown ring of the coffee mug you put to rest on your book when it got too warm for your fingers to keep holding it. I wish I was the heat which warms your hand. I wish I was the strings of your guitar, because God only knows how tenderly you play them; and I wish I was the soft - yet strong-, harmonic and beautiful sounds that come out of that big brown-wood box of yours. Your art matters, oh, it matters so much. And how I wish I'd be the reason why you write those kind-hearted songs - songs that whoever got the opportunity to hear, was impressed and appreciated your true talent. What's so easy in the evening, by the morning  is such a drag. I wish I was the mirror on which you glance for the last time before heading out somewhere. I wish I was that gray blazer that you wear sometimes - and instantly take my breath away. I wish I could go back a year ago and go to that place where we first met, where we were strangers and by a trace of fate, some friends in common and a bit of luck, we got to know eachother. And just as soon we got along really well, - the ones who introduced us didn't seemed quite surprised, though - and the rest of the night passed by us while we talked, laughed, bonded in a particular way as we found so much to share. With beer mugs in our hands and smiles upon our faces, the night was a bless. In that moment, everything was in its right place and there was only the nod silence of approval of the possibility of something new. I've got a flask inside my pocket, we can share it on the train, and if you promise to stay conscious, I will try and do the same. Right away I knew that when I'd remember that night, I would remember it as if it had just happened - and I do. All I wish is that I could rewind this whole year back just so I could feel the way I did that night. Surprise, interest, joy, desire, doubt, calm, thrill, hope, excitement. I just wish I could hear your thoughts and find out what was running through your mind as the night passed. 
-
Months after, another night, and I was there when your arrived. We didn't say "hi". Instead, for the following hour, our eyes met several times with a shy and curious look, while we stood across the room from each other. After some time, with all the dizzyness in my head, nothing seemed better than to get some air.. Then you came up, suddenly; we stood on a balcony, contemplating the sight of the city as it slept; few were the lights at the apartments, I guess it was kind of late in everyone's clock. The view from that point was mesmerizing, the city always seemed more beautiful from that angle. There was nothing around us, it was just you and I. We barely got to talk as much, inasmuch as the intensity of your eyes looking at mine was just too strong, too deep, too inestimable. I felt like we were magnetized, 'cause our bodies kept getting closer. What's so simple in the moonlight, now it's so complicated. I wish I was the look on your eye that day, and the touch of your hand, and your lips as they kissed mine. I know you have a heavy heart, I can feel it when we kiss. I wish I was the grace of that moment. I wish I found a way to get closer to you somehow. And I'm not sure what the trouble was that started all of this, the reasons all have run away but the feeling never did. These butterflies in my stomach when I got near you, the tingly fingers, the desire to be around you, this doesn't have a name yet. I wish it had. I wish I was the grace of that moment. I wish I found a way to get closer to you somehow. And I'm not sure what the trouble was that started all of this, the reasons all have run away but the feeling never did. 
-
I know that it is freezing but I think we have to walk, keep waving at the taxis, they keep turning their lights off. I wish I had gone to that bar last saturday just to see how you would react, just so you'd had talked to me, just so we had another memory.
-
my favorite of all
http://www.youtube.com/watch?v=5aZh261KZWI

Monday, July 15, 2013

41

mais um ano
da mais linda
das pessoas
que já habitaram
este universo

sinto sintomas de saudade.


"beautiful girl, gave me a name, gave me a life to fill, splendid embrace
she didn't know time would unveil
give her the right to heal any odd thing.
and when life brought doubt, she was always there to let you know it...
when the crowd walks out, she'll be standing by your side, you know it.
such a beautiful girl..."
Gave me a Name, Tiago Iorc
http://www.youtube.com/watch?v=5i16wPBHq50

Friday, July 12, 2013

geborgenheit

Tão maior que eu, tão maior que você e quiçá maior que todos nós juntos - alegria. Debaixo dos telhados, debaixo do céu que caía sob as cabeças daqueles tomando seus rumos pelas ruas da cidade - meu guarda-chuva vermelho estava aberto. O rumo que tomaria aquela tarde de chuva: uma incógnita. (De novo, de novo: o dia estava muito bonito.) Sentados um frente ao outro na mesa, eu via um rosto tão cheio de plenitude, de alegria - na sua melhor forma -, um sorriso de orelha a orelha que me observava tagarelar sobre as coisas da vida. E interrompia, de vez em quando, para dividir a graça das nossas coincidências. Cheio do que me contar - dos dias no leste do mundo, o que esperava do futuro, o que esperava de si, o que lhe faria voltar, o que lhe faria vacilar e querer ficar, sua politimidade era vasta -, cheio do que dividir. E assim ficamos ali, coincidindo-nos, com paixões, histórias e inspirações; nossas harmonias soavam em uíssono. E eu o admirava, ouvia e me encantava a cada minuto que passava; rimos, gargalhamos juntos e um do outro. E eu gostei de rir - era um sopro de felicidade na alma.
Eu me iniciei, me reiniciei; comecei de novo. Tudo, de novo. Era o ponto de partida.
E era como se eu rejuvenescesse a cada minuto que passava, o mundo tornava-se mais colorido e mais puro - e ele arrancava suspiros de mim. E queria mais, mais e mais disso, o que quer que fosse, que fazia isso comigo. Isso que me fazia querer sentir tudo mais intensamente, sentir mais a vida e as pessoas, e os dias e o tempo que desfrutamos; a sua delicadeza ao fazê-lo, a imensidão da percepção minusciosa do que o rodeava, o cuidado com cada palavra que pronunciava. Acho que era ele mesmo, - será? - que fazia tudo ressaltar positividade, mas preferi não perceber muito. Isso que fazia o momento fluir, eu queria mais disso. Eu só queria saber de ficar ali, prolongar o dia, a estadia frente a ele, naquela mesa do meio do nada. Como é que nos esbarramos tão de repente? - eu me perguntava enquanto sua voz invadia meus ouvidos de tudo que havia de melhor.
Não sei dar nome a isso, só sei que fez surgir uma baita felicidade dentro de mim. Depois disso, com uma boa dose de bom-humor, as conversas tornaram a ser cada vez mais longas, as revelações cada vez mais íntimas e as vozes ao referir-se um ao outro, cada vez mais doces. Teu canto soa nas caixas de som do meu quarto, pelo menos uma vez ao dia. E, assim, encontro-me refeita, com uma paz sentada no peito a qual eu sentira falta. O que paira - agora - na cabeça é esse tudo-ou-nada no qual eu, hora ou outra, terei que enfrentar.
-
Como um glossário ambulante, ontem eu perambulei pelas ruas, já depois da oito, tentando dar nome àquilo que não tem. Aquilo que só é. Aquilo que se é. Aquilo que faz ser de nós, pessoas melhores - mais bonitas, mais gentis, mais tranquilas, mais plenas. Ao enxergar a implicidade, transcendência e subjetividade disso, uma geborgenheit explícita nasceu em mim.

ouvindo
http://www.youtube.com/watch?v=ceoHTwhdPJ8

Wednesday, July 10, 2013

sete e meia

não sei se coincidência
ou força do pensamento
mas que é estranho
e curioso o fato
de que exatamente no momento
em que viestes à minha cabeça,
eu olho pela janela do carro
e estás a atravessar a rua...
ah, é.

ouvindo
http://www.youtube.com/watch?v=oTbObag1r0I
http://www.youtube.com/watch?v=-IunmW3wI5Q
http://www.youtube.com/watch?v=9yHbo1Q88uQ

Friday, July 5, 2013

real/surreal

(la vérité)

c'est un petit différant
ma vie pour les yeux
de toi, de vous, de eux
chaque détail et mon étendue

j'ai envie de promener moi
dans tout la vie
partir pour découvrir
mon morceau du monde

et d'autres personnes ne comprennent
jamais rien mes idées et mes rêves
parce que ils ont de la misère:
ils ne lisent pas la beauté de la vie

-
(le motif)

j'ai oublié le goût du bonheur
alors, je vais lui cherche 
où que vous soyez et n'a pas d'importance

jusqu'à quel point il est

-
(si vous voulez..)


nous pouvons aller ensemble
pour les rues de la cité
pour les cafés e les musées
et l'amour peut se moque bien de nous

-

je sais solement un chose: à côte de toi je peux tout (ou presque tout).





enquanto escrevia
http://www.youtube.com/watch?v=QqgIHeHReoM&feature=youtu.be

nas abas do navegador
http://www.youtube.com/watch?v=C6e5wxzPsQM
http://www.youtube.com/watch?v=kvD7a2fRV7A
http://www.youtube.com/watch?v=nGqF5XtvESE
http://www.youtube.com/watch?v=9kO4OyKFMSI
http://www.youtube.com/watch?v=YLLeUoafq44


Thursday, July 4, 2013

all shapes and sizes

"E por um instante alcancei o estágio do êxtase que sempre quis atingir, que é a passagem completa através do tempo cronológico num mergulhar em direção às sombras intemporais, e iluminação na completa desolação do reino mortal e a sensação de morte mordiscando meus calcanhares e me impelindo para a frente como um fantasma perseguindo seus próprios calcanhares, e eu mesmo correndo em busca de uma tábua de salvação de onde todos os anjos alcançaram voo em direção ao vácuo sagrado do vazio primordial, o fulgor potente inconcebível reluzindo na radiante Essência da Mente, incontáveis terras-lótus desabrochando na mágica tepidez do céu. Eu podia ouvir um farfalhar indescritível que não estava apenas nos meus ouvidos, mas em todos os lugares, e não tinha nada a ver com sons. Percebi ter morrido e renascido incontáveis vezes, mas simplesmente não me lembrava justamente porque as transições da vida para a morte e de volta à vida são tão fantasgoricamente fáceis, uma ação mágica para o nada, como adormecer e despertar um milhão de vezes na profunda ignorância, e em completa naturalidade. Compreendi que somente devido à estabilidade da Mente essencial é que essas ondulações de nascimento e morte aconteciam, como se fosse a ação do vento sobre uma lâmina de água pura e serena como um espelho. Senti uma satisfação suave, serpenteante como um tremendo pico de heroína numa veia principal; como aquele gole de vinho que te traz um arrpeio de satisfação num fim de tarde; meus pés se arrepiaram. Pensei que ia morrer naquele exato instante. Mas não morri e caminhei uns sete quilômetros, catei dez longas baganas e as levei para o quarto de Marylou no hotel e derramei os restos de tabaco no meu velho cachimbo e o acendi. Eu era jovem demais para perceber o que havia se passado."
On the Road 

Jack Kerouac

Tuesday, July 2, 2013

wasted

um aqui
distante

anseia achar
o seu par

em algum lugar

http://www.youtube.com/watch?v=LUdyueKu-sk
http://www.youtube.com/watch?v=NnzIrRykilA
http://www.youtube.com/watch?v=3iaOrql6ylw

Saturday, June 1, 2013

mountains

tentando entender
encontrar uma razão
pr'aquilo que ocupou
assim, o coração 

procuro um motivo
um por quê
de ser tão difícil
não pensar em você

até em sonho
deu o ar da graça
e aqui o tempo passa
e eu ainda sem entender

'porque é tão difícil
não pensar em você,
porque o sangue pulsa forte
toda vez que te vê
porque o mundo é tão vazio
com a tua ausência'

deixa o inverno chegar
sua barba crescer
que o frio te trará
de volta pra cá, enfim

vamos caminhar
por aí e discutir 
e discursar
a vida que nos leva, longe

conversar d'aquilo
tudo que nos agrada
tudo que é bonito 
tudo no que somos parecidos

aqui nessa praça vazia
a gente pode pegar um violão 
e achar graça e cantar desafinado
até o sol raiar 
e o mundo nos chamar de volta

até lá eu penso
em como você é bonito 
e no por quê de ser tão difícil
não estar com você

e tento não pensar
no que poderia ser,
quem sabe
(...)

sem fim.



ao som de
http://www.youtube.com/watch?v=84no_HITKFo

Monday, May 27, 2013

shake it out


And I'm damned if I do
And I'm damned if I don't
So here's to drinks in the dark
At the end of my rope
And I'm ready to suffer
And I'm ready to hope
It's a shot in the dark aimed right at my throat
'Cause looking for heaven, found the devil in me
But what the hell
I'm gonna let it happen to me.
It's always the darkest before the dawn

Florence + The Machine

Monday, May 20, 2013

like elephants

teu sorrir já vai
quando não te olham mais
e teu falar bonito
se esvai quando o dia cai

-

ela dá voltas
mas nunca para no mesmo lugar
ela não senta
só se recosta na parede até a música acabar

ela suspira com os olhos
seus pesares constantes
e quando a alma grita, 
ela só diz "vamos dançar?"

ela age como outono
ela diz o que ninguém sabe
entende o que não percebem
ela vê a alma d'outrém, de longe;
ela tem algo que outros não tem

transborda suas cores em um céu escuro
e pinta-no com seus reflexos
suas vertentes, suas esquinas
os cabelos castanhos, os dedos nus 

no seu coração faminto
seus cantos e dobras descolorem;
quiçá sua verdadeira sina
seja a de não conseguir se entregar

e rema àcolá. 
e re-ama. 
e, 
(...).





para ler ouvindo..
http://www.youtube.com/watch?v=ezfh5KeiWs0

Saturday, May 11, 2013

sail

No meio de tanta gente; tanta gente chata, desinteressante, sem graça e superficial. Tanta gente divertida, alto-astral, verdadeira e que não para de sorrir. Em meio à música que por vezes se repete, às pessoas que dançam, cantam e levantam seus corpos no ar; em meio à tudo isso, encontrava-me eu ali, parada, à mercê disso que transcrevo.
Não sei o que acontece, mas às vezes parece que só enxergo através d'alma. Onde tudo tem mais contraste, mais cor, mas satura-se mais facilmente; onde se vê tão melhor, com tanta clareza e um filtro puro no olhar. Assim, almeijo alto, e digo ao futuro próximo - e o longíquo - aquilo que quero ser.
Seja dançando, cantando, sorrindo ou conhecendo gente nova, que a vida nunca perca a essência em inovar. Que eu nunca deixe de querer mudar, e sorrir mais, cantar mais, dançar mais e ser mais quem sou. Que eu continue a me atirar na vida sem mais nem menos, sem pestanejar, deixando-me consumir por tudo o que é belo. Que meus impulsos sejam cada vez mais descontrolados e desmedidos. Que eu não me contenha, não guarde palavras na boca, não dê meios passos ou meios sorrisos. Quero não perder a coragem de deixar meu peito a mostra para essas implosões que pacificam, esse excesso, essa vertigem em estar vivo. Quero que me doa, consuma, e torne-me a vida um sufoco, vez em quando, pois de nada vale a felicidade sem seu antônito em paralelo, lembrando-nos em tempos difíceis, o valor de um sorriso genuíno. Quero sempre fazer o bem, porque o mundo vai mal. Quero dizer palavras de conforto a alguém, quero meus amigos sempre perto, em alma e coração. Que eu conheça muitas pessoas nessa vida, mas que saiba sempre quem são os poucos e bons. E esses amigos que habitam o coração, que sejam poucos, que sejam loucos, mas que sejam verdadeiros.
Que eu olhe sempre esse imenso céu e aponte no horizonte, distante, onde eu quero chegar. Que eu encontre um cantinho bom pra mim nesse mundão, mas que este mundo seja grande o suficiente para abrigar todos o meu sonhar. Que eu vá encontrar meu caminho nesse próximo ano, longe, mas que eu nunca esqueça o caminho de casa.
Quero continuar a entrar em uma galeria e parar por horas e horas, e ver, sentir, entender arte; que a arte continue a me resgatar, a cavar dentro de mim com suas mais profundas virtudes. Que eu continue a passar pelas ruas e quando encontrar palavras gentis, sorrir. Quero ouvir o piano com o violino, soando, em uma harmonia desconcertantemente linda, e que eu sorria, que eu chore, que eu sinta ao máximo. Que a música seja sempre minha maior paixão. Que ela continue a me tirar do sufoco, me abra espaço; que esta continue a dar-me o ar que enche os pulmões. Que esta me faça flutuar e arder e queimar. Que eu encontre forças o suficiente para ter meu coração partido, pois aguda e cruel é essa dor, mas que eu saiba enfrentá-la. Contudo, ainda mais, que eu encontre forças para reerguer-me, para levantar, para amar e encontrar um alguém que seja belo. E que esse alguém me guie mas nunca me ancore. Que quando eu estiver com esse alguém, não haja outro lugar onde eu pudesse querer estar; exatamente por eu ser alguém que sempre quer estar em outro lugar. Que eu dê um tempo para navegar. Que eu me dê um tempo e tire folga do mundo, tire folga de tudo. Quero passar mais tempo fluindo.
Que minha alma seja um filtro de tudo o que me invade; que eu sempre encontre espaço para doer, para curar e para aprender. Que eu me perfure com espinhos de rosa, para que a essência de belas flores inexatas me invadam, mil tons de cores, e pretos-e-brancos, e vontades imensuráveis. Que eu continue a querer os quereres maiores que nosso caos, esses que nos trazem de volta para o centro de todo o nosso futuro. E que seja bagunçado, incabível, transbordado, incompreensível, eloquente e pulsante, mas que seja belo o viver, acima de qualquer aposta.
A gente na vida foi feito pra voar.
-

para ler ouvindo..
http://www.youtube.com/watch?v=ghb6eDopW8I

Wednesday, April 24, 2013

dépaysement

I
cabeças introspectivas
mexendo-se como os trilhos
de lá pra cá
à direitas e esquerdas
do trem que corre sem o tempo parar
junto aos que andam com o mundo a rodar
dançam e dançam sob as ruas da cidade
sem que a mágica alguma lhes possa tocar

II
na cabine branca
o som dos metais soando
uma melodia bonita
clarinetes e trompetes
e os copos de plástico barato
passando e recolhendo
as moedas de piedade e compaixão

III
chegou à saint-lazare
salto na plataforma
na placa informa marie d'issy à esquerda
sigo por lá
ando pelas escadas que vão para mais longe da superfície
pelos labirintos subterrâneos
sente-se o ofegar dos que passam
aos passos apressados e os saltos-altos
uma avenida de mão dupla
dos que vêm e dos que vão

IV
entrei no trem à esquerda
e seu destino final será levallois
já o meu ficará
por aqui mesmo
e meus olhos tento deixar abertos
mas o cansaço pesa nas pálpebras
os pés pulsam a fadiga
enquanto observo os borrões nas janelas
as pessoas despercebidas
os anonimatos confortáveis
as multidões separadas por estações
os rumos dispersos e as bifurações
os encontros despercebidos
consecutivos
relevantes e esquecidos
deixados de lado,
entorpecidos

V
por agora só o que me ocorre
é o que passa lá fora
quero ver o sol do norte cair
atrás das árvores de galhos despidos
dos tijolos avermelhados das casas do subúrbio
e eu procurando em estranhos
algo que eu desconheça
procurando um olhar que seja
um único fio que reate a esperança
em um novelo de pessoas
de trens, de ruas, cafés e casas
continuo nas ruas caminhando,
andando e pensando
e sonhando acordada
em meio à beleza do que desconheço
de idiomas estrangeiros
dos hábitos corriqueiros
e dos palpites que tento seguir
"living is easy with eyes closed"
diz a voz nos meus ouvidos
são quase vinte horas no relógio
e o sol começou a cair

-

Dépaysement n.m. (frech): 1. change of scenery; 2. the feeling that comes from not being in one's home country. 3. obsolete/exile.

transcrevendo ao som de
http://www.youtube.com/watch?v=xCVea05GFHU

Tuesday, April 9, 2013

sê o plural como o universo

Como é por dentro outra pessoa
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento. 

Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo.



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Para quê o limite se para ser limitado basta existir?

Crear é libertar-se!
Crear-se é substituir-se a si-proprio!
Crear é ser desertor!
Substituamos as personalidades à personalidade. Que cada um seja muitos! Basta de ser para si a primeira pessoa do singular de qualquer pronome ou verbo. Sejamos a Pessoa Absoluta do Plural Inconmensurável. Menos que isto é a arte do passado!

Fernando Pessoa, "Álvaro de Campos ou Livro do Desassossego ou outra coisa qualquer". 




para ouvir
http://www.youtube.com/watch?v=HLWE5l7i47E



Sunday, April 7, 2013

Mamihlapinatapei

"O olhar trocado por duas pessoas que desejam dar início a algo mas ambos são relutantes e esperam que o outro tome iniciativa - the wordless, yet meaningful look shared by two people who both desire to initiate something but are both reluctant to start it."

Palavra da língua indígena antiga da Terra do Fogo e a tentativa de explicá-la em duas línguas, já que nenhuma a traduziu bem individualmente nem abrangiu seu significado justamente.

(cinco de abril de dois mil e treze)

Wednesday, April 3, 2013

1

Toska: "dá-se como profunda e dolorida, é uma sensação de vasta angústia espiritual, sem uma causa específica na maioria das vezes. Nos níveis menos mórbidos, é uma aguda dor na alma, uma falta de algo sem que nada esteja faltando, uma inquietude vaga, agonia mental, um constante anseio sem razão. Em casos particulares, pode ser o desejo por alguém ou algo específico, nostalgia, dor-de-amor. No menor nível dá-se, simplesmente, como tédio."
Do russo, uma bela - e intraduzível - palavra.

Wednesday, March 27, 2013

strangers

- Qual seria o meu eufemismo?
- "Ela era desconcertante."
- Não é um eufemismo...
- É, sim.


Cena do filme Closer.

Thursday, March 21, 2013

sleeping sickness

Eu caía em um infinito.. Caía, em uma velocidade despercebida, em um buraco sem fim. Eu ia em direção ao fundo, em direção ao nada.. E então acordei, sentei na cama em um lapso, com o coração descompassadamente acelerado e as gotas de suor a correr pela face; parecia que a minha alma iria sair correndo pela minha boca. Tive um pesadelo. E foi porque tudo, tudo sumiu... Eu não lembrava mais, do seu rosto, eu não me lembrava mais. E puxava de todas as formas, remetendo às lembranças, às fotografias gravadas dentro da memória, tentando de alguma forma encontrar no meu pensamento o seu rosto, mas não estava mais lá. Ficara eu ali, sentada na cama repleta de suor, com os cabelos molhados e o coração preso na garganta, os olhos a vazarem a perplexidade que me consumia. Eu não lembrava mais.. Não me vinha a sua imagem à mente e isso me encheu de culpa, de tristeza, mas principalmente, de medo. Eu não queria esquecer do seu rosto jamais pois tinha medo de perder-la de vez... Só não queria perdê-la, jamais. Então apressei-me a folhear os álbuns empoierados com fotografias antigas, uma folha, duas, três, ah! aqui está. Examinei-a como se fosse a última coisa que eu fosse fazer em vida; detalhe por detalhe, pedaço por pedaço, como estava sorrindo, como seu cabelo caía tão belo sobre os ombros, o dia nublado em uma avenida vazia e cinza. Eu a havia esquecido, pensei. Porque fazia muito tempo, tempo demais. Eu não podia esquecer, repeti três vezes dentro de mim. Não podia. E a insônia tornou-se rotina.

"- Eu não lembro mais.. do rosto dela.
- Faz muito tempo, sabe...
- Mas, não posso, não, não posso esquecer, simplesmente não.. Não posso perdê-la de novo.
- Você que é a maior memória dela, baixinha. Seu sorriso transborda lembranças dela, sabia?
- Mas todos nos acham tão diferentes..
- Aqueles que não a conheciam, talvez. Mas o teu sorriso chega a me arrepiar às vezes, porque parece que estou olhando pra ela.. E o teu olhar, não os seus olhos, o olhar mesmo. Ninguém no mundo faz isso, só vocês.
- É. Assusta como o tempo arranca de nós as nossas próprias memórias, só isso.."

para ouvir
http://www.youtube.com/watch?v=9uWh-TlEQ4k

Tuesday, March 19, 2013

além do que se vê

De um dia para o outro o clima deu uma reviravolta; amanhecera com um vento suavemente frio, que fez com que eu tirasse um par de calças e um moletom do armário. Lá fora estava tudo um pouco cinza, o céu estava coberto por nuvens que carregavam uma chuva que iria esperar pra cair. Ao chegar na escola de música, sentei e fiquei jogando conversa fora com a secretária; coisas comuns, mesmo, mas gosto dessas conversas com quem não vejo todos os dias. É como conversa de elevador, se está chovendo, se está quente, como o trânsito está uma lástima... Mas há também aqueles assuntos inusitados, aqueles que não nos vêm à mente todas as horas e com todo mundo, como trabalhos no período de férias, a relação das pessoas com o frio ou o quão eclético somos quando se trata de música.  É divertido a troca de idéias e pontos de vista em uma conversa descontraída, aprendo muito sobre as pessoas nesses momentos. Então chegara às duas da tarde o relógio, subi as escadas com um copo de água nas mãos e a mente livre de qualquer pensamento. Com um violão nas mãos, o mundo desaparece ao meu redor. Dentro daquelas quatro paredes durante aqueles quarenta e cinco minutos é como se aquele fosse tudo ao que se resumisse o meu universo. Aquele é o meu tempo, aquele é o meu lugar, aquela a minha paixão, longe de quaisquer outras distrações estrangeiras. Sai da garganta a voz em tom onírico, à vontade com a situação; sai do violão uma harmonia nova e bela, conjuntos de notas as quais as mãos descobrem a cada arpejo no tocar das cordas. É bonito mergulhar nessa transe, é uma pena que acaba. Ao sair dali, tomei meu caminho, o qual eu, normalmente, percorro andando bastante rápido, com uma pressa demasiadamente chata. Hoje, porém, não tive pressa alguma, caminhei de acordo com a minha vontade e com o clima dessa dia de fim de verão. Entrei em um beco, ao qual por muito tempo passava despercebido por mim, até que encontrei um motivo para notá-lo e colocá-lo no meu mapa, o que deve fazer quase um ano e meio. Chegando ao fim do beco, entrei na porta à esquerda e subi as escadas, e ali estava ela, sentada atrás da mesa, com sua máquina de costura ligada e os óculos apoiando-se na ponta do nariz, quando olhara para cima e excalamara "menina, não te vejo desde o ano passado, vem aqui me dar um abraço!". Helena, com esse jeito extrovertido, carrega dentro de si uma sinceridade hostil - não por maldade, de forma alguma - e seu sorriso cansado se abre independentemente de qualquer coisa. Eu encontrara por acaso essa senhora, por indicação de uma grande amiga quando questionei se ela não sabia de nenhuma costureira boa, ela só não me dissera que tão boa era ela no trabalho como de coração. E, como de costume, as visitas à Helena não duram menos de meia hora, sendo inadmissível a ela não papear e rir um pouco da vida. Ao fim disso, segui meu caminho novamente e decidi ir tomar um café em um lugarzinho novo que abrira faz pouquíssimo tempo ali perto. Entrei, fiz meu pedido e sentei. Logo entrara um conhecido lá e conversamos, eu da minha mesa e ele da dele, um pouco sobre a viagem que ele fizera nas férias de verão, sobre as vezes que ele fora o chef de cozinha na macarronada para arrecadar fundos ao grupo de dança ao qual eu fazia parte e de algumas outras pequenas coisas, incluindo assuntos de conversa de elevador. Cessado o assunto, tornei a ler e acabei me perdendo em meu livro. Quando vi, o relógio já apontava a hora de ir. Pedi então um chá para levar e fui embora. O amargo do mate com o azedume do limão reagiram em um sabor único - se fecho os olhos, ainda consigo sentir o cheiro da erva, as raspas de limão e do frescor que invadia a cidade. Continuei, passo a passo, a seguir meu caminho usual das terças-feiras.
Sabe, eu que detesto a banalidade que envolve a rotina maçante, deixei, deliberadamente, que eu apreciasse um pouco mais dela nesse dia que agora se inclina ao fim. Pude ver que nem tudo é tão igual assim. Os pormenores, os pequenos detalhes desse dia, tornaram essa terça-feira um pouco mais bonita do que as outras. Talvez, se eu prestasse mais atenção aos dias, sem deixá-los passar despercebidamente voando perante meus olhos, todos os meus dias poderiam ter um tom tão agradável como o dessa terça-feira. (Est-ce que ça?) Talvez, pois, todos os meus dias poderiam ter cheiro de chá com limão, eu poderia ter conversas de elevador com estranhos de vez em quando e minhas pernas poderiam dar às caminhadas um ritmo mais calmo; quem sabe... De qualquer forma, c'est une belle vie.

"Moça, olha só o que eu te escrevi, é preciso força pra sonhar e perceber que a estrada vai além do que se vê.."
Referência à música que tocou, no modo aleatório, depois de escrito esse pequeno texto e que tão simplesmente coube a tal e, assim, o entitulou.

Monday, March 18, 2013

regardless

Eu acho que deveria parar de pensar um pouco, mas não consigo. Ao caminhar sozinha ou andar de bicicleta ou ficar em silêncio, eu preciso pensar. Não consigo esvaziar minha cabeça, mas eu preciso.. eu preciso para ficar - ou fingir estar - bem. Em razão disso, eu deveria abster-me de pensar, porque pensar demais acaba sempre levando a você, e pensar em você remete às impossibilidades mais doídas, aos dilemas mais crueis e às incógnitas mais determinadas que já houvera. Lembrar do que passou, do que foi, do que não mais é. Pensar demais leva a você. E pensar em você remete à saudade que eu não quero sentir. Pensar demais manterá acesa a chama que se alastra dentro de mim, que arde, que não perdoa. 
Só não quero pensar mais em você, seria pedir demais?.

Sunday, March 10, 2013

body in a box

Moça, te escrevi uma coisa, que é pra ti lembrares de mim mesmo quando não estou contigo; pois de ti sempre lembro, mesmo quando não estás comigo. Indelével é tua voz a cantarolar-me cantigas de criança, a recitar Renato Russo e ler-me Saint-Exupéry. "Do contrário quem virá visitar-me? Estarás tão longe..", disse-me tantas vezes, em tantas noites que pedira eu a mesma história. Sinto tuas mãos acariciando meus cabelos, até que eu caísse em sono profundo. Ainda sinto teu tom a rodear-me os dias e teu riso a acalmar minhas tormentas. Porém, não te vejo em lugar algum.. Nem nas esquinas de ruas usuais, nas janelas dos prédios ou nos olhos de outras pessoas; não te vejo perto daqui, em canto algum dessa cidade. Não te vejo em nenhuma vitrine, nem a vagar por aí. Te vejo somente na harmonia das minhas músicas preferidas, nas estrofes de Érico Veríssimo e nas angústias de Clarice; te vejo na leveza de Chico, no poder da voz de Elis e na imensidão de Tchaikovsky. Te vejo quando estou sozinha; quando canto e a voz embarga, quando perco o fio da meada. Quando penso em te ver, desabo sobre mim e desdobro-me em migalhas. Te vejo em sonhos raros, nas lágrimas que ardem o coração, em tudo o que deixei de ser. Sinto tuas mãos tocarem meus ombros e tua ausência atilada no olhar desmedido de esperanças que nada encontra ao olhar para trás. Te sinto nos ventos que desarrumam os cabelos e tiram meus pés do chão..
E assim, moça dos cabelos alaranjados, todo o meu amor é destinado a ti, tudo o que abriga meu coração. Dou teu nome a toda saudade que me invade, que me desola, que tento guardar em uma gaveta qualquer; amassada, murcha, vazia e embrulhada como papel amassado. Às vezes me perco sem você aqui, e quando assusta a lembrança tua ser tão vaga dentro de mim, meu coração grita que estás aqui; que mesmo de longe, estás dentro de mim. Às vezes só quero que tu me dê a mão, ouça minhas tristezas e compartilhe de meus sorrisos. E imploro baixinho, sabendo das impossibilidades que nos rodeiam: volta pra cá, volta pra gente. És um vazio imperscrutável no âmago, no fundo da alma dói a falta que tu fazes. E, de vez em quando, pra tentar explicar isso que sinto, dou-te o nome de "Saudade".. Mesmo sabendo que és muito mais. 

Texto dos 13 anos sem ti.

Monday, March 4, 2013

impermanência

"I betrayed you," she said baldly.
"I betrayed you," he said.
She gave him another quick look of dislike.
"Sometimes," she said, "they threaten you with something – something you can't stand up to, can't even think about. And then you say, 'Don't do it to me, do it to somebody else, do it to so-and-so.' And perhaps you might pretend, afterwards, that it was only a trick and that you just said it to make them stop and didn't really mean it. But that isn't true. At the time when it happens you do mean it. You think there's no other way of saving yourself and you're quite ready to save yourself that way. You want it to happen to the other person. You don't give a damn what they suffer. All you care about is yourself."
"All you care about is yourself," he echoed.
"And after that, you don't feel the same toward the other person any longer."
"No," he said, "you don't feel the same."


Trecho do livro 1984, de George Orwell.

Friday, March 1, 2013

bicycle

The wind's blowing your hair, ripping off of your shoulders all its heaviness. You go faster and faster and faster, without pushing the breaks; you don't ever want to stop. There's nothing around you, it's only you. There's only the road beneath your feet, and you're running through it all; you're running from everything else. All the chains are broken. You're not kept inside of four walls, there is no door to get through, there is no barrior. The gentleness in the air get down your inside, filling your lungs with life. The cold wind passes through your black leather jacket and your old jeans. Dried eyes, cold fingertips, fast heartbeats. You're able to feel the tenderness of the day embrace you. Your mind slips away, and your thoughts disappear, suddenly all you have is this moment of pure clarity. In all of this, I've found safety.

Monday, February 25, 2013

keep going

Meu lugar não parece ser onde estou. E, constantemente fico a pensar: esse lugar, onde seria? Fico a rodear em cômodos com suas quatro paredes a me encarar; "aqui não é o seu lugar", elas dizem a mim. Rodeio as ruas à noite, olhando as janelas com luzes acesas onde ficam pessoas donas de suas próprios narizes. Vejo grupos de amigos se separando após uma cerveja no bar em plena quarta-feira e cada um tomando seu rumo. Quero meu espaço, também. Quero um lugar pra poder chamar de meu, onde ficariam meus livros em estantes, as paredes repletas de quadros em molduras coloridas, as mesas lotadas de porta-retratos, minhas câmeras fotográficas em uma prateleira e varais de fotografias; gostaria de ter meu cantinho, com todo o pouco que tenho, com apenas o básico do básico, com todo o pouco que é meu. Ainda não pertenço a lugar algum; até lá, continuarei indo, sem parar, sem pestanejar, sem desistir. Como já diria Nelson Rodrigues, "acho a liberdade mais importante que o pão".

Sunday, February 3, 2013

botas batidas

não precisa de livro
nem de mochila ou manual
aprenderá sozinha
quando chegar lá

não precisaria de muito amor
ou cuidado
só uma xícara de café à mão
quando chegar o cansaço

deixa de sonhar
não precisa disso, não
nem de sonho ou de ilusão

seria como uma bela canção
uma bela valsinha
a felicidade em sobreviver

aqui, lá, acolá



Friday, February 1, 2013

gaudium

Apaga com um sorriso toda a tristeza que te invade a alma.

(Um lembrete àqueles que se entregam ao viver, usando eufemismos para anestesiar os tropeços por aí.)

Tuesday, January 22, 2013

Janeiro: Parte II.

Música boa, banco da carona, sol do meio-dia. Porta-malas cheio, óculos de sol, uma conversa boa. Pai e filha, estrada, um belo dia. Setecentos metros, saudades, caminho conhecido. Sinaleiras, ar abafado, morro íngreme. Barulho do portão, vaga do carro, pulos de saudade do cão. Casa iluminada, quarto cheirando a lavanda, varanda avistando acolá. Caneca de café, arrumar os armários, tirar o obsoleto. Vestido branco, perfume doce, varal de fotografias. Roupa suja, roupa limpa, mala vazia. Árvores de jasmin, um calendário aberto no meio do mês e uma saudade. Já diria minha avó: não há nenhum lugar como a nossa casa...

Monday, January 14, 2013

Janeiro: Parte I

Paz, brindes, fogos de artifício. Cheiro de maresia, pele brilhando, areia no sapato. Anoitecer tardio, brisa fria, sabor salgado. Pés descalços, sol da manhã, chuva às oito horas. Gente nova, salões de festa, madrugadas a fio. Sorrisos simpáticos, olhares gritantes, hálito fresco. Cabelo ondulado, saia soltinha, sardinhas na bochecha. Jogos de taco, risadas altas, novas amizades. Livros novos, músicas calmas, vista da janela da sala. Biquíni de bolinha, óculos de sol, rabo-de-cavalo. Água de coco, milho verde, andar solitária. Correr às oito e meia, banhos gelados, pele bronzeada. Câmeras analógicas, cerveja gelada no bar, pôr-do-sol.

Friday, January 11, 2013

dois mil e treze

Mais paz, mais compaixão, mais compreensão. Mais felicidade, mais candura, mais sensibilidade. Mais humanidade. Mais pé no chão, mais certeza e criatividade. Mais sonhos, mais fé, mais esperança. Mais autenticidade, menos cópia. Menos gente querendo viver a vida alheia, mais gente querendo andar seu próprio caminho. Mais sinceridade, mais originalidade. Mais beleza interior, menos beleza exterior. Mais sorrisos. Mais ser, menos ter. Mais cativar, amar, sonhar. Mais olho no olho, menos distância. Mais gente verdadeira. E que venham mais 365 dias...

Wednesday, January 9, 2013

Uma pequena resposta do mês de dezembro

Sim, eu estava lá e me apresentei ontem. Engraçado é que, mesmo não acreditando em coincidências, elas insistem em aparecer na minha vida assim, out of the bloom. Houve dois dias de recital, e foi exatamente ontem o dia em que eu me apresentei. Lembro exatamente de você, no ano anterior, ali sentado naquela cadeira vermelha meio velha do teatro e sorrindo com minha cara de surpresa, meio que dizendo com o olhar "é, sou eu mesmo, estou aqui e eu vim te ver". E não posso dizer como procurei esse olhar ontem. Lá de cima do palco, com um violão nos braços e um microfone na minha frente, eu procurava rostos. Dezenas de faces com seus olhos vidrados em mim e no que eu estava fazendo. Senti calma, paz, serenidade. Senti todo o nervosismo - a garganta seca, a voz trêmula, as mãos suando - se esvaindo de mim, tudo o que angustiava o peito a ponto de achar que fosse sucumbir à hora h, tudo desaparecera assim que eu sentei naquela banqueta, ali, sob o foco de luz branca. Tanta gente observando cada gesto, cada suspiro e movimento meu. E eu procurava faces.. Mesmo assim. Eu procurei seu rosto naquelas dezenas de outros rostos, e não achei. Mas eu estava ali, sim.