Sunday, March 10, 2013

body in a box

Moça, te escrevi uma coisa, que é pra ti lembrares de mim mesmo quando não estou contigo; pois de ti sempre lembro, mesmo quando não estás comigo. Indelével é tua voz a cantarolar-me cantigas de criança, a recitar Renato Russo e ler-me Saint-Exupéry. "Do contrário quem virá visitar-me? Estarás tão longe..", disse-me tantas vezes, em tantas noites que pedira eu a mesma história. Sinto tuas mãos acariciando meus cabelos, até que eu caísse em sono profundo. Ainda sinto teu tom a rodear-me os dias e teu riso a acalmar minhas tormentas. Porém, não te vejo em lugar algum.. Nem nas esquinas de ruas usuais, nas janelas dos prédios ou nos olhos de outras pessoas; não te vejo perto daqui, em canto algum dessa cidade. Não te vejo em nenhuma vitrine, nem a vagar por aí. Te vejo somente na harmonia das minhas músicas preferidas, nas estrofes de Érico Veríssimo e nas angústias de Clarice; te vejo na leveza de Chico, no poder da voz de Elis e na imensidão de Tchaikovsky. Te vejo quando estou sozinha; quando canto e a voz embarga, quando perco o fio da meada. Quando penso em te ver, desabo sobre mim e desdobro-me em migalhas. Te vejo em sonhos raros, nas lágrimas que ardem o coração, em tudo o que deixei de ser. Sinto tuas mãos tocarem meus ombros e tua ausência atilada no olhar desmedido de esperanças que nada encontra ao olhar para trás. Te sinto nos ventos que desarrumam os cabelos e tiram meus pés do chão..
E assim, moça dos cabelos alaranjados, todo o meu amor é destinado a ti, tudo o que abriga meu coração. Dou teu nome a toda saudade que me invade, que me desola, que tento guardar em uma gaveta qualquer; amassada, murcha, vazia e embrulhada como papel amassado. Às vezes me perco sem você aqui, e quando assusta a lembrança tua ser tão vaga dentro de mim, meu coração grita que estás aqui; que mesmo de longe, estás dentro de mim. Às vezes só quero que tu me dê a mão, ouça minhas tristezas e compartilhe de meus sorrisos. E imploro baixinho, sabendo das impossibilidades que nos rodeiam: volta pra cá, volta pra gente. És um vazio imperscrutável no âmago, no fundo da alma dói a falta que tu fazes. E, de vez em quando, pra tentar explicar isso que sinto, dou-te o nome de "Saudade".. Mesmo sabendo que és muito mais. 

Texto dos 13 anos sem ti.

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