Wednesday, October 13, 2010

the stars fell out of the skies

Já amei. Já fui amada. Já senti saudade. Já senti.
Já corri. Já fingi que não vi para não cumprimentar alguém e coloquei a culpa na ausência dos óculos. Já passei para ele olhar. Já olhei para trás e ele não olhara. Já ignorei olhares de desdém.
Já sorri ao ouvir uma canção que lembrava algo especial, alguém especial. Já sorri ao ouvir aleatóriamente exatamente a música que eu precisava ouvir. Já chorei com músicas. Já toquei muitas músicas. Já cantei sem saber a letra. Já cantei no chuveiro. Já decorei inúmeras letras de músicas por osmoze. Já ouvi uma única música durante uma semana inteira. Já ouvi algum estranho a cantarolar uma melodia desconhecida que impregnou no meu pensar. Já fiquei um dia inteiro a repetir a cantoria da melodia. Já quis saber o nome da música. Já esqueci a melodia no dia seguinte.
Já cantei em karaokê.
Já vacilei ao respirar. Já fui falar porém palavra alguma fora pronunciada.
Já esqueci do aniversário de amigos. Já acordei e lembrei que era meu aniversário ao olhar-me no espelho. Já me perguntei o por quê da minha sina com espelhos.
Já jurei que usaria algo e comprei. Ainda está lá no canto do meu armário.
Já tive amor platônico. Já chorei por amor. Já chorei porque sabia que não era amor. Já chorei por pensar que era amor. Já chorei de saudade. Já chorei (muito) lendo um livro. Já chorei por lembrar. Já chorei por achar uma fotografia. Já chorei por segredos. Já chorei ouvindo uma música. Já chorei de nostalgia. Já chorei de tanto rir.
Já gargalhei. Já tive crises de riso incontroláveis. Já vi o sol nascer. Já vi o dia amanhecer. Já escrevi até o amanhecer. Já sorri até o amanhecer. Já fui feliz até o amanhecer.
Já me alimentei apenas de café.
Já esqueci. De aniversários, feriados, trabalhos e prazos de escola. Já esqueci como é saber viver.
Já feri. Já me machucaram. Já pensei que somente fingia gostar quando, na verdade, gostava. Já fingi gostar para esquecer. Já tentei esquecer. Já esqueci. Já lembrei novamente. E mais uma vez.
Já esperei. Já perdi as esperanças enquanto esperava.
Já contei piadas sem graça, ninguém riu. Já passei semanas só com amigos. Já discuti com amigos. Já briguei com amigos. Já perdi amigos. Uns por dois dias, outros nunca mais vi. Já perdi amigos para as drogas. Já fiz muitas (e muitas) loucuras por eles.
Chorei desesperadamente com uma amiga. Já senti como se o mundo tivesse parado para assistir-me a chorar.
Já fui criança. Já quis voltar a ser criança. Já não quis mais ser gente grande. Já brinquei de boneca e de casinha. Já passei vergonha. Já tive traumas de infância. Já fiz xixi no elevador. Já quis que a infância voltasse. Já quis voltar no tempo. Já quis parar o tempo. Já quis avançar no tempo.
Já quis viver nos anos 70. 60. 40. 30. 20.
Já quis ser mais velha. Já estudei. Já jurei amor à Língua Portuguesa. Já odiei profundamente Matemática. Já odiei Newton. E suas leis.
Já fingi estar doente para não ir à escola. Já descobri que a escola é legal. Já odiei a instituição escolar. Já amei a minha escola.
Já acordei e dormi novamente sem nem mesmo levantar da cama. Já dormi durante um dia inteiro. Já passei um dia inteiro de pijama. Já fiquei um dia inteiro assistindo filmes. Já chorei incontrolavelmente com filmes.
Já quis ser protagonista. Já quis ser princesa. Já quis um príncipe. Já quis viver um conto de fadas.
Já sonhei tanto. Já acreditei. Já me iludi. Já quis sumir. Já acreditei em mentiras.
Já me arrependi. Já fiz o que não deveria ter feito. Já não fiz o que queria ter feito. Já menti.
Já errei. Errei. Já pedi desculpas. Já perdoei.
Já xinguei (chinguei?) muito. Muito. Já pensei zerar provas onde tirei 9. Já me arrependi de não ter estudado o suficiente. Já dormi em cima de livros. Já tive erros de gramática. Já corrigi erros de gramática. Já falei 'pra mim' quando devia falar 'pra eu'. Já fiquei irritada quando falaram 'pra mim'. Já fiquei extremamente irritada com ignorância.
Já quis ser tantas coisas. Promotora de Justiça, cardiologista, cozinheira, musicista. Dona de restaurante. Pediatra, engenheira química. Juíza, psicóloga, cozinheira (de novo), juíza (de novo). Fotógrafa. Diplomata. Ministra. Escritora, poeta, roteirista. Empresária, promotora de justiça. Diplomata, juíza, escritora. Chef de cozinha. Dilplomata. Fotógrafa. Juíza federal. Escritora. Já tive certeza do futuro. Já deparei-me com a incerteza das múltiplas escolhas.
Já tive insônia. Crônica. Ainda sofro com ela. Já passei a noite em claro simplesmente por passar. Já passei a noite em claro por preocupação. Já passei uma noite inteira rolando de um lado da cama para o outro.
Já vi o mundo em preto e branco. Não sonho "colorido". Já tive pesadelos. Já acordei do nada. Já me esquivei na cama dos meus pais por medo de pesadelos. Por medo da noite.
Já menti para mim mesma. Já descobri que essa é a pior mentira. Já dei um tapa na cara de alguém. Já dei a cara pra bater.
Já bebi. Já tive medo de beber. Já exagerei ao beber. Já fiquei de ressaca. Tenho alergia a nicotina. Já perdi quem não queria perder. Já perdi alguém (s) para o vício.
Já falei demais. Tagarelei por estar nervosa.
Já escrevi. Já escrevi por amigos, para amigos. E eles não entenderam. Já escrevi para desabafar. Já amei as palavras acima de tudo. Já fiquei bem com palavras ditas. Já tentei começar um livro. Já quis ter um livro. Já quis viver das palavras.
Já cuspi palavras (rudes, sim) na cara de alguém. Já aprendi o poder que elas têm. Já tentei apagar a palavra dita. Já tentei apagar alguém de mim.
Já chorei por alguém. Já chorei por homens. E de dor. Já sofri (muito). Muito.
Por quês não respondidos.
Já quis quem não me quis. Já não quis quem me queria. Já quis quem não devia.
Já quis ao meu lado alguém impossível. Já sonhei acordada. Já tive desejos. Já (demorei, mas) voltei atrás.
Já fui contrariada. Já decepcionei. A mim inclusive.
Já esqueci uma voz. Já desesperei-me por não conseguir lembrá-la. Já perdi a voz. Já passei o dia em silêncio. Já entrei em um lugar em silêncio. Já falei com estranhos. Já achei que falar com estranhos era falar com um reflexo. Já achei que estranhos enxergam-nos mais reais.
Já tive overdose de café. Já virei a noite estudando. Já li o proibido.
Já fugi de casa. Voltei três horas depois. Já caminhei sem rumo. Já achei um caminho. Já corri na chuva.
Já tomei banhos de chuva. Já quebrei o dedo. Já tive que fazer fisioterapia. Já tive problema nos joelhos.
Já perdi campeonatos. Já chorei dentro de quadra. Já não acreditei na derrota. Já discuti muito. Já descobri minha infita teimosia. Já defendi. Já tomei partido.
Já gritei e quis que o mundo ouvisse. Já gritei para ninguém ouvir. Já gritei com alguém. Já fui explosiva. Já tive raiva. E por isso, gritei.
Já disse nunca. Muitas vezes.
Já subi em um palco. Já senti lá em cima algo mágico. Já senti por instantes que era ali o meu lugar, aonde eu pertencia. E era.
Já fui aplaudida. Já ganhei uma única rosa. Já toquei violão na praça. Já ganhei dinheiro assim.
Já fiquei sem dinheiro algum na carteira. Em uma outra cidade. Já falei minha vida inteira para um taxista. Ele me entendeu. Já chorei em um táxi às 3 da madrugada.
Já senti a brisa do mar logo cedo. Já corri na praia. Já senti falta do inverno.
Já fiquei descalço em bailes. Já perdi o glamour. Já fui dormir quando todo o resto estava acordando.
Já deixei a janela aberta pois o dia estava lindo.. e choveu.
Já pedi comida chinesa às 3 da manhã. Chegou às 5. Já atrasei relógios.
Já perdi a hora. Já perdi alguém.
Já disse adeus. E tive medo de ser levada junto.
Já quis ser abraçada para sempre. Já abracei.
Já quis desligar-me do mundo.
Já fui encantada. Já me encantaram. Já adormeci do nada. Já dormi no colo da minha mãe. Já senti falta do colo de mãe. Já senti saudades de casa.
Já guardei cartas de amor. Já escreveram para mim. Já guardei cartas sem remetente. Já escrevi cartas que nunca mandei.
Já tive um conto publicado. Já superei medos.
Já senti-me nas nuvens.
Já dancei até não dar mais. Já quis ir de penetra a uma festa. Já quis ser anônima.
Já assinei um texto meu como autor desconhecido. Já assinei pseudônimos. Já elegi um livro predileto. Já desenhei minha futura casa. Já sonhei desde menor com uma biblioteca caseira. Já quis uma geladeira vermelha. Uma azul e outra verde. Agora quero uma laranja.
Já quis a coleção inteira de Dickens. Já desisti de ter tudo. Já vi o quão realista ele era.
Já entendi que gosto do meio termo. Idealista pé-no-chão. Realista esperançoso.
Já decorei todas as falas de um filme.
Já me apaixonei por um personagem de um livro.
Já vi-me descrita na resenha de um livro.
Já quis quebrar o silêncio. Já falei quando não devia. Já fiquei quieta quando deveria ter falado. Já me apaixonei pelo silêncio de biblioteca. Já senti.
Já amei. Já fui. Já voltei.

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