Friday, September 4, 2009

until life breaks it apart.


"Era inverno de 1957. Um homem na praça nos arredores dos subúrbios de Barcelona. O vento gelado, impiedoso, cortava os rostos e fazia sofrer quem ousasse desafiá-lo. Um homem por entre fatos. Ele aparentava ser rico, alto, de cabelos loiros e olhos verdes que se escondiam por entre os sobre-tudo negros. Aparentava estar com uma flecha atravessada pelo seu coração apenas pela expressão de dor e confusão em seus olhos. A dor que enchia seu coração de ódio, raiva e remorso fazia com que ele parecesse cansado apenas por respirar. Estava ofegante. Os seus pensamentos o prendiam em uma rede de mentiras. Ele enganara pessoas e percebeu que, na verdade, com isso, só enganara a si mesmo. Ele pensava nas pessoas queridas, parentes, amigos e no amor que poderia ter prezervado se não tivesse agido do jeito que agiu. Pensava do quão estúpido e idiota era, no quanto poderia ser uma pessoa melhor. Ele parou. Olhou para os seus pés e sentou em um banco cor de chumbo, com o encosto feito de madeira. Só indagava sobre a vida, sobre a fé, o amor, Deus e sobre a arte que ele costumava acreditar. Ele parou de pensar. Parou de indagar. Ficou obsevando o céu cujo estava em cor de púrpura com toques respingados de laranja, azul de cinza; observava o jeito alegre das pessoas que por ali passavam, como as suas brincadeiras umas com as outras era, o jeito apaixonado que casais se entreolhavam. Ele sucumbiu à sua própria fé e criação e naquele momento estava desamparado. Pensava em suas crenças mas não de forma a reavaliá-las, mas sim a conquetizá-las. Sentia-se seguro e forte para se humilhar e perder o orgulho na frente daqueles que ele amava e pedir perdão, misericórdia.
Repentinamente um homem de trages muito mais que simples, trapos poderiam ser considerados, muito longe da realidade que o homem de sobre-tudo preto estava acostumado, bom, o homem de barba grande ficou obsevando o de sobre-tudo como se soubesse o que ele estava pensando, ou o que ele precisava, das palavras que ele precisava ouvir.
O homem de sobre-tudo não parecia incomodado com a presença daquele homem de barba grande e sim surpreso. Até que o homem de sobre-tudo balbuciou algumas palavras para si mesmo. Então ele murmurou algo, aparentemente para o homem de barba grande:
- Por que os relacionamentos são tão difíceis, complicados e cansativos?

Um sorriso surgiu em meio daquela neve toda. E tinha vindo do homem de barba grande. Ele parecia entender exatamente a pergunta e, ao mesmo tempo, a resposta, e disse:
- Por que a única coisa mais difícil é viver solitário.

Então o homem de sobre-tudo sorriu envergonhadamente e percebi que algo caíra de seus olhos. Era uma lágrima. Talvez tenha sido tristeza, mas acho pouco provável que fora isso. Tenho um melhor palpite: era uma lágrima de alegria por ter achado alguém que o entendia, pois isso não é algo que se acha em qualquer esquina. Ele havia achado isso naquele final de uma tarde nevosa na praça pública em Barcelona.
No momento em que o homem de sobre-tudo se levantou, abraçou o homem de barba grande e disse, lentamente:
- O senhor fez algo com a minha alma e com a minha fé que nem eu mesmo tinha certeza que poderia ser feito e por isso serei eternamente grato.

E foi. Naquele exato momento eu, ele e o homem de barba grande sabiam. Sabiam de tudo. Sabíamos que a sua fé em amor, em Deus, e na arte fora restaurada e que o homem de sobre-tudo nunca mais deixaria que ele mesmo acabasse com ela mais uma vez."

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