Friday, July 12, 2013

geborgenheit

Tão maior que eu, tão maior que você e quiçá maior que todos nós juntos - alegria. Debaixo dos telhados, debaixo do céu que caía sob as cabeças daqueles tomando seus rumos pelas ruas da cidade - meu guarda-chuva vermelho estava aberto. O rumo que tomaria aquela tarde de chuva: uma incógnita. (De novo, de novo: o dia estava muito bonito.) Sentados um frente ao outro na mesa, eu via um rosto tão cheio de plenitude, de alegria - na sua melhor forma -, um sorriso de orelha a orelha que me observava tagarelar sobre as coisas da vida. E interrompia, de vez em quando, para dividir a graça das nossas coincidências. Cheio do que me contar - dos dias no leste do mundo, o que esperava do futuro, o que esperava de si, o que lhe faria voltar, o que lhe faria vacilar e querer ficar, sua politimidade era vasta -, cheio do que dividir. E assim ficamos ali, coincidindo-nos, com paixões, histórias e inspirações; nossas harmonias soavam em uíssono. E eu o admirava, ouvia e me encantava a cada minuto que passava; rimos, gargalhamos juntos e um do outro. E eu gostei de rir - era um sopro de felicidade na alma.
Eu me iniciei, me reiniciei; comecei de novo. Tudo, de novo. Era o ponto de partida.
E era como se eu rejuvenescesse a cada minuto que passava, o mundo tornava-se mais colorido e mais puro - e ele arrancava suspiros de mim. E queria mais, mais e mais disso, o que quer que fosse, que fazia isso comigo. Isso que me fazia querer sentir tudo mais intensamente, sentir mais a vida e as pessoas, e os dias e o tempo que desfrutamos; a sua delicadeza ao fazê-lo, a imensidão da percepção minusciosa do que o rodeava, o cuidado com cada palavra que pronunciava. Acho que era ele mesmo, - será? - que fazia tudo ressaltar positividade, mas preferi não perceber muito. Isso que fazia o momento fluir, eu queria mais disso. Eu só queria saber de ficar ali, prolongar o dia, a estadia frente a ele, naquela mesa do meio do nada. Como é que nos esbarramos tão de repente? - eu me perguntava enquanto sua voz invadia meus ouvidos de tudo que havia de melhor.
Não sei dar nome a isso, só sei que fez surgir uma baita felicidade dentro de mim. Depois disso, com uma boa dose de bom-humor, as conversas tornaram a ser cada vez mais longas, as revelações cada vez mais íntimas e as vozes ao referir-se um ao outro, cada vez mais doces. Teu canto soa nas caixas de som do meu quarto, pelo menos uma vez ao dia. E, assim, encontro-me refeita, com uma paz sentada no peito a qual eu sentira falta. O que paira - agora - na cabeça é esse tudo-ou-nada no qual eu, hora ou outra, terei que enfrentar.
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Como um glossário ambulante, ontem eu perambulei pelas ruas, já depois da oito, tentando dar nome àquilo que não tem. Aquilo que só é. Aquilo que se é. Aquilo que faz ser de nós, pessoas melhores - mais bonitas, mais gentis, mais tranquilas, mais plenas. Ao enxergar a implicidade, transcendência e subjetividade disso, uma geborgenheit explícita nasceu em mim.

ouvindo
http://www.youtube.com/watch?v=ceoHTwhdPJ8

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