Monday, August 15, 2011

indelével


Eu me lembro bem de olhar pela janela quando o tempo não passava. As árvores passavam com pressa, se esvaindo rapidamente, enquanto os grandes morros moviam-se lentamente. As curvas da estrada agonizavam minha ansiedade. Impaciente, eu incomodava perguntando quanto tempo faltava, "é pouco, já estamos chegando". E quando realmente chegava, procurava entre prédios e casas. Procurava aquela pracinha, a pequena igreja, os pombos, o frio.. Procurava algo que eu conhecia e que me levasse a quem eu tanto queria. Procurava dentro da multidão rosto do qual sentia tanta falta de olhar. Quando encontrava, saía correndo, para o aconchego de um abraço.
Seu rosto antigo, com marcas de uma vida plena, longa. Trazia em si essa alegria natural, seu sorriso a transmitir essa simpatia confortante. Seu jeito querido, de mãe, de mãe três vezes. Suas histórias e sua graça interminável fascinava qualquer um que teve a sorte de a conhecer. Tão bem quista em razão de todo o bem que levava por onde passava...
O crochê que a senhora me ensinara a fazer ainda está ali guardado, sem terminar. E as saudades apertavam no verão.  
O alicerce da alegria que em mim veio a florescer, é fruto de lembrar do seu rosto alegre. Das suas graças; suas tardes a ler na sala de televisão, o pedido de um copo d'água quando já lhe cansava ir até a cozinha, seu abraço carinhoso... Os detalhes e as lembranças tão reais e presentes na memória... Nada disso desaparecerá.
Sua novela era às 6 e seu café descafeinado. Seu coração sofria de problemas e isso ainda não foi suficiente para prejudicar todo o amor que ele tinha; creio que os problema era ela ter um coração grande demais.
E o tempo a não dar trégua, foi enfraquecendo suas forças aos poucos. Como o vento, leve e suavemente, o tempo foi levando sua joviedade.
As marcas em seu rosto permaneciam... Afundavam-se e aumentavam.
Suas mãos procuravam apoio e sua voz chamava por nós.
E em um dia aberto, com o sol no topo do céu, foi-se a mais bela pessoa que eu conhecera. Foi com serenidade, como vento que sopra aqui...
E agora deixa saudade da sua felicidade, do seu amor e carinho. Há lembranças estampadas em fotografias em todo lugar que vou, e isso acalma a saudade quando ela aperta. Faz lembrar da sua força, da sua garra e da sua bondade. Dessa plenitudade e beleza em amar viver. Dona Neusa, a senhora é eterna em nossos corações. Eu amo muito a senhora. Não há como esquecê-la, jamais.

(12-07-2011)

1 comment:

  1. um bom café, uma boa música... e com essa leitura me encarrego de inaugurar o dia 13 de setembro às 02:30.

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