Wednesday, September 1, 2010

do lado avesso

  Acordei com cólera. E hoje a ironia no olhar faz-me perder a cegueira de cada dia. Não, nada no mundo agrada a mim. O próprio amor, que carrega consigo a promessa de pureza e verdade, exige. Exige muito de quem usufrui dele. Tolos são os que vivem a acreditar que o amor se põe em quem se ama. Não, amor é mais. é subjetivo demais.
  E na vida? Vive-se. Morre-se. E sem explicação essa vida lhe é tirada. E sem sequer por quê essa vida também lhe é dada. E sem por quê, vive-se.
  A verdade é profunda e aguda demais para qualquer um merecê-la. Até que alguém a mereça. E não mentir é um dom que o mundo não merece.
  E pessoas, essas sim, que se dizem tão autônomas e escravas apenas da sua própria vontade, elas vivem como pequeninos soldados. Marcham, descansam quando podem. Vivem à mercê das decisões de outrem. Isso sim que é autonomia.
  Ter a obrigação de se educado é desprezível, viver à mercê, novamente. A sociedade cria regras que nem mesmo ela consegue respeitar. E isso, com o tempo, cria uma revolta que cresce no interior de cada um que vive a ser reprimido, e a reprimir-se.
  Tenho verdadeira repulsão de perguntas sobre meu humor. Sobre meu mau-humor. Ninguém, absolutamente, nota quando estou com um sorriso (às vezes até efusivo) estampado em meu rosto. De qualquer forma, qualquer humor que eu venha a ter não interessa a ninguém além de mim.
  Acordei em cólera. Levo isso na expressão do meu rosto.
  Como será possível um mundo inteiro estar sentado à espera de um milagre? Sendo que tal mágica não existe. Não no meu mundo, não na minha realidade. Seis bilhões de pessoas esperam. E com o barulho constante do relógio se desesperam. Pior: ainda carregam em si vestígios de esperança. Esperança de que algo seja feito por elas, sendo que somente elas poderão fazer isso por si mesmas. Sinto pena.
  Mentira. Não sinto pena ou misericórdia, parei de senti-las há um bom tempo. A auto-piedade é o desprezo da alma sobre si mesmo. Isso é inquietante e tão desnecessário.
  E cá estou sentada no meio-fio de uma calçada mal-acabada sob a luz do luar e das constelações salpicadas no breu da escuridão desse mar negro que deslumbra-me a cada olhar. O que faz-me lembrar do acaso. E as perguntas que tanto intrigam e agoniam, deixo finalmente de lado. Quando der, ele responderá.
  Há quem leia o que escrevi agora e demore a assimular o que digo. Há quem procure uma mensagem a ser extraída de tudo. Não a procure, pois ela não existe. Rebele-se, sim. Revolte-se, sim. Desbafe, assim como fiz há pouco e tantas outras vezes também. Eu faço isso sem querer uma lição em troca.
  Ato de descarregar tristeza, a sufocante amargura que trata de isolar meus pensamentos,  é desabafo. É esse pontinho de incômodo que até então era normal, que inquietou-se. Então, coloco o incômodo para fora, sem cerimônias.
  Sinto nas minhas lágrimas esse quê de inconformidade. E esse sorriso que agora transparece, é repleto de angústia e agonia. E tristeza completa a razão das minhas palavras e o dia ruim deixa isolado esse pequeno coração leviano.
  Amanhã talvez tudo volte a fazer sentido. Amanhã talvez o dia seja melhor. Amanhã talvez meu coração não seja tão leviano, frágil e completo por ingenuidade. Amanhã talvez o sentido da vida seja tirado de mim. Amanhã talvez o ontem faça falta. Amanhã, hoje será passado. Amanhã talvez eu não sinta tanto a sua falta.

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