Friday, July 30, 2010

a face do dilema

  Crônica. A tal fui designada escrever. Comentar sobre meu dia, fazer uma invenção. Tornar realidade em ficção.
  Tornar de meu caderno, um mundo de rascunhos. Das palavras mágicas, o romance trágico. A angústia do relógio, o som do oceano, a culpa do inocente.
  E qual será meu contexto?
  Devo eu então gritar tudo o que por dentro me devasta? Corrói meu sentimento ou que destrói minha única razão?
  Devo eu fazer da vida um esplendor? Devo fazer da minha sombria vontade de viver os dias uma alegria efusiva?
  Escrever dos momentos. Do inesquecível.
  Falar do tempo que voa ao passar de cada dia. Falar do incerto, do alicerce da certeza. De desilusão, do cheiro da flor que avistei, da essência do vento a soprar, da solidão que senti tão amargamente.
  Da perda, da morte, de uma reforma no asfalto. Do poema maravilhoso que surgiu entre pensamentos aleatórios, e da mesma forma desapareceu.
  Ou então devo forcar-me em arrancar de um leitor uma gargalhada inesperada. Colocar real alegria no esboço do sorriso de um desconhecido qualquer.
  A crônica?
  Decidi sequer começá-la.
  Sem comédia, sem romance, sem magia.
  Apenas palavras. Um rascunho em um dia qualquer amargurado pela confusão.
  Um dilema.
  Uma crônica sobre o dilema da crônica.
  E no desespero de um último gesto, meus olhos se fecham em busca de um desfecho. Um ponto final.

No comments:

Post a Comment