Monday, September 28, 2009

na escuridão é tudo o que eu vejo.

Acordo, manhã de domingo, chuva forte, quase permanente. Você saiu do meu lado, aqui não permaneces mais. Deve ser você que está deixando esse cheiro de panquecas de chocolate na casa. Mas não pode ser, você é um péssimo cozinheiro. Teu perfume permanece em minha pele. Vou averiguar. Nada. Mesa não posta, cozinha bagunçada, como normalmente. Volto à cama para relembrar momentos de ontem à noite. Ah, tamanho poder de persuasão o seu, que me faz escalar montanhas, fazer o inesperado. Faz com que eu saiba o que é amar. As nuvens me lembram irreparavelmente as últimas horas de ontem, de momentos inesquecíveis nossos. Momentos que ficarão no nosso egoísmo mesmo, não quero dividí-los. Não mesmo. Um molde seu parece ser impossível de conseguir. Eu faria inúmeros, se pudesse, apenas para não esquecer o jeito como as linhas se ajeitam em teu corpo, em tua face.
Tu és meu poder, minha força maior. Quando fica difícil de viver a vida, é você que me dá forças, é em você que penso, é em você onde meus mais abstratos e penetrantes param e são salvos e coletados, e é nesse hora onde minha esperança é renovada, reforçada. É nessa hora em que quero viver mais infinitas manhãs de domingo ao teu lado.
De meus pensamentos sou tirada quando sua voz polida e forte me chama, me acorda de sonhos que poderiam não ter fim. Pode ser isso tudo o que eu preciso. De sombra, de pegar nossas roupas aconchegantes e passar devagarmente por aquela pequena cafeteria onde nos conhecemos para pegar um expresso, do mais forte, para você e um capuccino com espuma extra para mim.  Voltar para casa, deitar em nosso sofá verde, e sentirmos a pulsação um do outro, de tão próximos que estamos. Descansar os nossos ossos juntos com o do outro. Dirigir devagar, em uma manhã de domingo.
São três horas da tarde e precisamos fazer algo divertido. Teu perfume já penetrou em mim, tua voz já me fez desmoronar, o som de tua música já me fez suspirar. Parece que em domingos, em manhãs, em meio de rotinas desbravantes, nós voltamos à nossa menor idade e você faz as coisas parecerem tão fáceis, sem conseqüências, irrelevantes. Tudo parece tão fácil. Você acabou de ter uma idéia. Espere um minuto, repita? Tinta? Aonde temos tinta? Ah sim, no porão. Espere, não temos um porão. Vou procurar. Achei. Estavam no quarto de bagunça. Você faz desenhos com a minha mão na folha de papel. Pareces tão feliz, mas não tanto quanto eu, pois fazes a minha felicidade ir ao auge, ir além Isso me faz viajar em uma aquarela, em um sonho que poderia não ter fim. Infinitamente teus lábios penetram no meu, em uma manhã de domingo.
Voltamos a descansar na cama, apenas ouvindo blues e a chuva. Numa tempestade, oscilamos como galhos entrelaçados e inquebráveis. O barulho de tempestade. O barulho de uma tempestade que insiste em resistir.
Horas e horas se passam. A noite está chegando e nós não queremos saber. A manhã de domingo parece para sempre durar. Com certeza é apenas disso que preciso. Ficar com você em manhãs de domingos. Em nossos lençóis levar a nossa história, deixar nosso passado, traçar nosso futuro, nossas teorias, nossos fatos. Em uma manhã fazer com que o tempo de uma vida valha a pena e seja possível ser vivida, fazer a nossa vida ter um sentido desconhecido por outrem. Tudo o que eu preciso é te notar em meio dessa imensa escuridão e chuva que permanece nessa manhã de domingo.
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Palavras de agradecimento dedicadas à Laís, por ser essa pessoa tão sutilmente frágil, inteligente, decidida e indecisamente linda. É à ti que escrevo esse texto para perceberes que sem céu claro nem o sol enxerga e que nem sempre nós somos capazes de fazer tudo sozinhas.

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