Monday, August 10, 2009
A Thousand Lifes,
"Mil vezes, fugi de minha própria sombra, sempre olhando às minhas costas, sempre esperando encontrá-la ao virar uma esquina, do outro lado da rua ou ao pé de minha cama em horas intermináveis que precediam a aurora. Nunca permiti que alguém me conhecesse o tempo suficiente para poder me perguntar por que não envelhecia nunca, por que não desenhavam linhas em meu rosto, por que meu reflexo era exatamente o mesmo que deixou Isabella no cais de Barcelona, nem um minuto mais velho.
Estava tão cansado de ter medo, de viver e morrer de lembranças, que parei lá onde a terra acaba e começa o oceano que, como eu, amanhece todo dia exatamente como no anterior, e deixei-me cair.
Essas páginas serão nossa memória, até que seu último suspiro se apague em meus braços e eu a acompanhe mar adentro, onde nasce a corrente, para mergulhar com ela para sempre e poder, enfim, fugir para um lugar onde nem o céu nem o inferno possam nos encontrar, jamais."
O Jogo do Anjo, de Carlos Ruiz Zafón, páginas 405 e 410.
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